VIDA

20 de março de 2018

Há mais de trinta anos, cotidianamente, atendo várias pessoas que me procuram com o intuito de aliviar sentimentos de mal estar físico e ou psíquico. É interessante notarmos que “mal estar”, literalmente, significa que o indivíduo não está aonde deveria ou, idealmente, gostaria de estar. Ou seja, a pessoa está em desarmonia com sua vida. Não está satisfeita com seu corpo, família, trabalho, condição socioeconômica, relacionamento íntimo ou na conexão com o sagrado. Por isso surgem os sintomas de adoecimento em uma ou em todas essas seis áreas em que o ser humano precisa e deve transitar.

A doença, por sua vez, representa tanto a incapacidade da pessoa transitar e atender essas seis demandas, quanto o fato de estar vivendo de forma unilateral, monotemática e singular, ficando fixada em fatos, condicionamentos ou diagnósticos, inviabilizando a pluralidade e diversidade da vida. A doença acontece quando a pessoa se esquece de que a vida é, essencialmente, a necessidade da perpetuação e aprimoramento da espécie diante da contínua experiência da impermanência e transmutação na diversidade cósmica que pode ser: divertida, adversa, caótica, anárquica, hierárquica, rígida, traumática, dramática, alegre, triste, prazerosa, ordinária, extraordinária ou dolorosa.

A vida depende da troca e a doença, por sua vez, teme a troca, estimulando o acúmulo, a competição e, consequentemente, a manutenção das desigualdades em qualquer instancia. O altruísmo leva à saúde e o egoísmo à doença, porque o egoísmo é inerente à insegurança.  O autoconhecimento gera autoconfiança e fé para que as trocas possam acontecer livremente, mas a baixa autoestima gera insegurança, infelicidade e egoísmo, devido ao medo de trocar confiante diante da vida. No caminho do autoconhecimento a pessoa pode compreender que ninguém pode dar o que não tem, mas também não irá receber o que não deu, tornando-se a mudança que idealiza ser.

Compreendo que assumir a vida em sua plenitude não é uma tarefa fácil. Viver, fatalmente, nos leva à frustação. Porque a realidade, com toda sua diversidade, sempre apresenta o imponderável, a incerteza e as novidades imprevisíveis que nos tiram da zona do conforto. Mas, apesar de todas essas adversardes, evoluímos e aprimoramos. Isso é muito mais interessante do que a atitude defensiva dos “engenheiros de obra pronta”, que acreditam saber de tudo, criticando, explicando, diagnosticando e até predizendo o futuro, sem correrem o risco de viver.

É incrível vermos indivíduos, incluindo profissionais de saúde, opinarem a respeito do matrimonio, dos filhos, de empreendimentos e outras empreitadas adversas e arriscadas da natureza humana, sem terem tido a experiência! Geralmente são indivíduos amedrontados e acovardados, defendidos em suas teorias reducionistas e dogmáticas, de base científica e ou religiosa, que servem para aliviar ou deixa-los alienados do mal estar de suas vidas. Entregam-se parcialmente aos processos e ficam, defensivamente, apoiados em suas certezas. Porém, como a vida atravessa tudo e todos, em algum momento a crise irá acontecer e o chamado para o autoconhecimento levará, inevitavelmente, para as trocas e, consequentemente, para a vida. Porque ninguém tem a capacidade de transformar ninguém, mas ninguém consegue se transformar sozinho!

Na realidade, na visão junguiana, quem não se entrega ao processo de individuação, ficando defensivamente acomodado na zona do conforto, deixa de cumprir o propósito e o significado da vida que é, além de espiritualizar o humano e humanizar o espírito, civilizar a psique, para poder compreender que só é possível ser na condição de servir!

Waldemar Magaldi Filho, psicólogo, mestre e doutor em ciências da religião, coordenador dos cursos de pós-graduação que titulam e formam especialistas em Psicologia Analítica, Arteterapia, DAC e Psicossomática do IJEP – Instituto Junguiano de Ensino e Pesquisa (www.ijep.com.br), que são oferecidos em Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro. (wmagaldi@ijep.com.br). Autor do livro: “Dinheiro, saúde e sagrado” Eleva Cultural.


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