OS OITO “ESSES” ENTRE O SINTOMA E A SAÚDE

11 de abril de 2018

Refletindo sobre a tensão dinâmica existente entre a saúde e os sintomas de adoecimento, que podem aparecer tanto no corpo – também chamado de soma – quanto na psique e todo seu entorno profissional, familiar, social, emocional e espiritual, percebe-se a existência de oito palavras iniciadas com “s” exercendo influencia significativa na qualidade de vida de todo ser humano. Essas palavras não têm ordem de prioridade e, na realidade, são implicativas entre si e no todo, são elas: sono; sexo; sabor; serenidade; sinceridade; sentido; significado; e sacralidade; todas muito importantes na manutenção harmoniosa da saúde biopsicosocial e espiritual dos seres humanos.

Antes de comentar cada uma dessas oito palavras, ampliarei sobre a dualidade conceitual e dinâmica entre a saúde e os sintomas de adoecimento. Saúde tem haver com o conceito de cura ou inteireza e integridade, condição em que o indivíduo atingiu sua melhor consistência e consciência sobre si mesmo e da importância das oito palavras iniciadas com “s”, com isso, abundância, prosperidade, riqueza, afluência e felicidade, se tornarão sentimentos presentes ao longo da vida. Opostamente, sintoma, conceito que representa a idéia de coisas que caíram possibilitando a retomada de consciência, – do grego é a junção de sýn + ptôsis = coisas em queda – aponta para a falta de cuidado e atenção para uma ou mais dessas palavras iniciadas com “s”, abaixo comentadas:

  1. Sono é necessário para o equilíbrio biológico e psicológico, mas precisa acontecer de maneira consciente e respeitosa. Um indivíduo que carrega sentimentos de medo, culpa, raiva, ódio ou arrependimento não conseguirá desfrutar totalmente dos benefícios do sono e ficará suscetível a todo tipo de sintomas de adoecimento. Ou seja, quem não tiver uma vida vígil íntegra e ética, mesmo sem ter insônia ou tomando soníferos para dormir não terá um sono revigorante e biopsiquicamente pleno.
  2. Sexo é o encontro prazeroso e harmonioso da união com o contra ponto sexual intrapsíquico presente em todo ser humano, que geralmente é projetado nas relações extrapsíquicas. As relações sexuais deveriam ser comemorações conscientes e festivas da convivência amorosa, equivalente à integração consciente da anima ou do animus, proposta pelo psicanalista C. G. Jung. Com isso, as projeções cessarão e as relações humanas poderão ser mais reais e menos idealizadas.
  3. Sabor é a capacidade para a experimentação consciente de toda diversidade que vai sendo manifestada ao longo da existência humana. Quem saboreia os vários aspectos da vida amplia a consciência do presente e a percepção de que passado e futuro são ilusões que podem tirar o brilho do aqui e agora. Porque diversão e entretenimento é a capacidade de estar entre o diverso, sem medo e sem pré-juízos.
  4. Serenidade é a capacidade de apreciar a vida de forma calma e tranqüila, interferindo, aceitando e distinguindo entre o que pode ser mudado do que não pode. Porém, para isso é necessário o respeito – em latim, respicere, que significa ao mesmo tempo: “olhar para, se olhar e se deixar olhado” – que é a capacidade de se aceitar e aceitar a singularidade humana. De ver e se deixar ser visto por inteiro.
  5. Sinceridade, palavra que vem do latim “sem cera”. Na Grécia antiga as colunas de mármore, para ficarem belas, eram completadas com cera e pó de mármore, escondendo toda imperfeição. As belas colunas com cera enganavam os arquitetos, muitas vezes não suportando o peso que lhes fora destinado. A partir daí os construtores solicitavam colunas sinceras – sine cera. Abrir mão da cera, do verniz das aparências ou da persona significa poder encarar a sombra, ou seja, os aspectos indesejados e mal resolvidos de nós mesmos.
  6. Sentido é a meta existencial. É impossível que nossa condição única, criativa e complexa seja destinada apenas para garantir os mecanismos de bio-sobrevivência. Por isso, pecado – do grego hamartia – representa a perda do alvo que é a experiência de totalidade.
  7. Significado equivale ao processo de auto-realização da própria existência. Quem não consegue conferir significado a sua própria vida e a de seus semelhantes, além de ser extremamente infeliz é quase incapaz de viver. Para mim, o maior significado da existência é o de servir e amar o amor, sempre em rumo da evolução que é a reunião do todo. Só assim os sentimentos de insegurança começam a cessar, pois o daimon, que é o gênio vocacional ou o chamado e a finalidade existencial que existe na essência de cada ser humano, trará significado e coragem.
  8. Sacralidade que é a manifestação de toda dimensão e experiência espiritual unitiva, onde sentimentos numinosos irão conferir relatividade à noção de tempo e espaço, despertando para a fé e a religiosidade, independentes de qualquer denominação religiosa.

Então, essas oito palavras são o caminho para que possamos viver uma vida saudável e feliz, distanciando do sintoma em direção à saúde, mais duas palavras iniciadas com “esse” que somados as oito, perfazem a totalidade de dez que, numerologicamente, representa a unidade!

* WALDEMAR MAGALDI FILHO (www.waldemarmagaldi.com). Psicólogo, especialista em Psicologia Junguiana, Psicossomática e Homeopatia. Mestre e doutor em Ciências da Religião. Autor do livro: “Dinheiro, Saúde e Sagrado”, coordenador dos cursos de especialização em Psicologia Junguiana, Psicossomática, DAC – Dependências, abusos e compulsões, Arteterapia e Expressões Criativas e Formação Transdisciplinar em Educação e Saúde Espiritual do IJEP em parceria com a FACIS. wmagaldi@gmail.com


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