ENGRENAGEM CAPITALISTA E A SAÚDE FÍSICA, MENTAL E SOCIAL

11 de abril de 2018

Qualquer análise histórica e antropológica deixa evidente a capacidade adaptativa, criativa e transformadora da espécie humana, principalmente nas situações de crise onde a superação acaba produzindo evolução. Não por acaso que o ideograma chinês que representa a crise também represente a oportunidade. Esta capacidade, por um lado, possibilitou nossa realidade científica e tecnológica, inimaginável a menos de cinqüenta anos atrás, e acabou contribuindo para a monetarização da vida, da saúde e da dádiva. Por outro lado, está nos levando para uma nova crise com repercussão ecológica, social, cultural, física, psíquica e espiritual, manifestada na forma de sintomas ambientais, comportamentais, relacionais, psicossomáticos, psiquiátricos e religiosos. Por isso tantas catástrofes, fanatismos, dependências, abusos, compulsões, com consumo exagerado de remédios, divórcios, solidão, desigualdades, exclusão, entre outras patologias.

Como o dinheiro é apenas uma energia que pode ser direcionada para qualquer foco, facilmente poderá ser usado para reverter essa situação crítica e alarmante que está se afigurando para o nosso futuro. Porém, para que isso aconteça, é necessário que uma quantidade significativa de pessoas passe por uma mudança de paradigmas, libertando-se das duas rodas viciosas e assimétricas que mantêm a engrenagem do atual capitalismo utilitarista em movimento. A roda maior, que é representada pela maioria das pessoas, movimenta-se num contínuo circular entre consumo, dívidas e trabalho, enredando e, conseqüentemente, alienando os indivíduos nesta rotina repetitiva. A roda menor, por sua vez, é representada por um pequeno número de pessoas, que vem diminuindo gradativamente, igualmente aprisionando-as no continuum circular entre poder, lucro e acúmulo. Sendo que, no eixo central desta engrenagem está a tentativa iludida da negação do medo e da angústia, temáticas inerentes e imanentes em todos os seres humanos, associadas ao desejo de se sentir pertencente e engajado em algum grupo social.

Por causa da angústia somos invadidos pelos temores da solidão, do receio da morte, do medo da liberdade e da falta de sentido existencial. Para quem ainda não conquistou o autoconhecimento, esses medos produzem reações defensivas caracterizadas pela contínua “obrigação” de se sentir pertencente, necessário, importante, produtivo, rico, saudável, acumulando posses e muitos deleites. Essas “obrigações”, por sua vez, são responsáveis por uma infinita quantidade de dependências, abusos e compulsões. Entre elas os desejos de poder, de acúmulo, de consumo, associados à busca de prazer imediato, que acabam dando um alívio transitório à angústia, apesar de alienar e manter as pessoas mais aprisionadas às rodas viciosas, fazendo-as irem ao shopping comprar o que não precisam, com o dinheiro que ainda não possuem, para impressionar quem não conhecem e aparentarem ser o que não são!

Todo indivíduo que conseguir sair das rodas, além de transgredir o sistema, poderá repensar o sentido e o significado da sua existência, enfrentando o medo, aliviando sua angústia existencial, diminuindo seu consumo, reaproveitando e reciclando tudo o que for possível. Atividades absolutamente necessárias para que o futuro da humanidade seja viável, apesar de deixar todas as atuais estruturas capitalistas absolutamente assustadas, pois todo planejamento delas está calcado na utopia do crescimento continuado e infinito. De qualquer modo, com ou sem sofrimento, acredito que a civilização irá encontrar um novo modelo que redistribuirá a riqueza de forma igual e includente, restaurando tanto a cura quanto sacralização e o encantamento do mundo. Ressaltando que cura é sinônimo de integridade e de consistência, ou seja, entusiasmo, sentido e significado existencial.

Por isso acredito que a educação deveria estar muito mais voltada para o autoconhecimento, possibilitando a reflexão de que estar adaptado em um contexto doente não é saudável. Desta forma, infelizmente, muitos jovens acabam manifestando sintomas ou distúrbios de atenção, dependências, abusos, compulsões ou hiperatividades, muitas vezes por não conseguirem ficar ajustado em nosso contexto social patológico, competitivo e individualista.

* WALDEMAR MAGALDI FILHO (www.waldemarmagaldi.com). Psicólogo, especialista em Psicologia Junguiana, Psicossomática e Homeopatia. Mestre e doutor em Ciências da Religião. Autor do livro: “Dinheiro, Saúde e Sagrado”, coordenador dos cursos de especialização em Psicologia Junguiana, Psicossomática, DAC – Dependências, abusos e compulsões, Arteterapia e Expressões Criativas e Formação Transdisciplinar em Educação e Saúde Espiritual do IJEP em parceria com a FACIS. wmagaldi@gmail.com


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