DESAFIOS PARA A EDUCAÇÃO: CIDADANIA E AS MANIFESTAÇÕES DEMOCRÁTICAS 11 de abril de 2018 A educação, cada vez mais, tem que assumir sua responsabilidade na relação entre democracia e cidadania. Principalmente porque todo educador tem na sua frente pessoas com prontidão para transformarem-se e, consequentemente, transformarem seu entorno relacional. Por isso, a educação e o valor dos educadores deveria ser a prioridade do tripé social: Estado, Mercado e Sociedade. Porque ninguém consegue conduzir o outro para além de onde conseguiu chegar. Nos últimos tempos assistimos as manifestações sociais no Brasil, surpreendendo a todos com o despertar das massas, que pode alavancar a tomada de consciência e responsabilidade social tão necessária! As manifestações tiveram o propósito de contestar os atuais regimes políticos autoritários, a corrupção, o desemprego, o descaso social, com a falta de cuidados com a segurança, saúde, transportes e educação. Foram protestos espontâneos e democráticos, em busca de participação dos cidadãos na vida pública. A Marcha dos Indignados envolveu todas as classes e faixas etárias e teve como principal propósito a reclamação de uma democracia real, a inclusão social e a mudança política do país. Este fenômeno foi desencadeado a partir da nova tecnologia das redes sociais, algo que nunca tinha sucedido. As redes sociais quebraram as fronteiras, possibilitam uma interação direta, permitindo que os cidadãos se organizassem, comunicassem e sensibilizassem. Esta realidade é o atual desafio para a educação, que deveria continuar estimulando a cidadania e mantendo a capacidade dos educadores e educandos continuarem fazendo suas reinvindicações democráticas com manifestações pacificas. Por isso, em primeiro lugar, os educadores precisam aprender a reivindicarem, sistemática e organizadamente, o investimento continuado na sua capacitação, valores e valorização. Sabemos que ainda estamos totalmente dominados pelo consumo do descartável, pela competição excludente em busca do acúmulo da riqueza material, pela globalização que desrespeita as tradições culturais e religiosas e pela evolução tecnológica que automatiza as empresas, inclusive da educação e da saúde. E que o atual predomínio do mercado financeiro, acarreta a transformação do modo de viver e trabalhar, gerando mais medo, alienação e incentivo aos transtornos obsessivos e compulsivos. Porém, o neoliberalismo populista do Brasil, com políticos fascinados e dependentes do poder, atuando exclusivamente em benefício dos seus grupos familiares, religiosos ou econômicos, deixando de lado as necessidades e desejos sociais, tem que acabar. Por isso, diante dessa triste realidade, para os cidadãos poderem intervir politicamente é preciso a formação de grupos de pressão, para que a pessoa comum tenha acesso ao poder. No tripé social: Estado, Mercado e Sociedade, o predomínio deveria estar colocado na Sociedade, seguido pelo Estado que deveria atender os anseios sociais e conter a voracidade do Mercado, que ainda está baseado na antiga formula competitiva, cumulativa e excludente, que desconsidera as questões da auto sustentabilidade em prol da manutenção do ecossistema do planeta. Porém, na realidade, o Mercado é que está regendo tanto a Sociedade quanto o Estado, incluindo a maioria dos grupos religiosos, educacionais e da saúde, que funcionam exclusivamente pelos interesses econômicos. As democracias deixaram de ser o governo do povo, pelo povo e para o povo, para passarem a ser o governo dos mercados, para os capitalistas e pelos capitalistas. Por isso a educação, paulatinamente, foi sendo sucateada pelo Estado-Mercado, para fragilizar a soberania do povo, que por falta de educação transfere seu poder a uma maioria de políticos profissionais e de fachada, que representam apenas os interesses do Mercado, aliado a seus interesses pessoais, transformando o público em patrimônio privado, agindo de forma egoísta, inescrupulosa e corrupta. Por esta razão que, infelizmente, esses políticos, cada vez mais dependentes e fascinados pelo poder, jamais vão agir no sentido de investir na educação, para não correrem o risco de perderem seus privilégios. Porque um povo educado e culto tem capacidade critica e, obviamente, deixa de transferir seu poder a esse tipo de indivíduos. A política pedagógica dominada pela Economia ocupa-se quase que exclusivamente com o condicionamento capitalista, evitando que os alunos tenham capacidade critica e reflexiva, estimulando-os apenas na direção do acúmulo, inclusive das informações, e do consumo, para que fiquem aprisionados, desde cedo, no triangulo da compra, da dívida e do trabalho. Com isso, a educação deixou de formar cidadãos com sentido crítico e espírito de participação, para produzir indivíduos especializados, conforme as necessidades do mercado, condicionados a comprarem o que não precisam, com dinheiro que ainda não possuem, para impressionarem quem não conhecem e fingirem ser o que não são. A educação deixou de estimular a formação do cidadão global, voltando-se apenas para a empregabilidade individual e aquisição de competências, num contínuo salve-se quem puder! Este princípio da competição leva a uma cidadania fracionada, contrária ao ideal de cidadania democracia, que se quer com espírito de participação baseado numa educação crítica, que permita espaço para a discussão argumentativa da matriz coletiva. Os direitos dos cidadãos passam a ser os direitos do consumidor, transformados em consumidores políticos, completamente afastados das decisões de poder. Os governos deixaram de ter como propósito o bem comum e a vontade geral. Por democracia entende-se, hoje, apenas a possibilidade que o povo tem para aceitar ou recusar quem o vai governar, mas no fundo todos são praticamente variações do mesmo. Até então, sem educação democrática voltada para a participação da cidadania as massas tornaram-se amorfas. Prevalecendo uma sensação de impotência perante a robustez do capitalismo, o que levou ao desânimo ao ponto de se deixarem dominar por completo pelos governos. A contestação deixou de fazer parte da dinâmica social. Os cidadãos não sabem, e também não queriam saber, não aprendem, e também não queriam aprender, acomodaram-se em serem dirigidos, sentindo-se bem com isso, não se questionam nem se importavam mais com o passado e com o futuro. Mas isso está mudando e não podemos nos acovardar ou sermos manipulados com a infiltração dos vândalos nas manifestações, que tem o intuito de desestabilizar e esvaziar esse movimento legítimo, possibilitando a manutenção do atual domínio do Estado-Mercado! Prof. Dr. Waldemar Magaldi Filho, psicólogo, mestre e doutor em ciências da religião, coordenador dos cursos de pós-graduação que titulam e formam especialistas em Psicologia Analítica, Arteterapia, DAC e Psicossomática do IJEP – Instituto Junguiano de Ensino e Pesquisa (www.ijep.com.br), que são oferecidos em Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro. (wmagaldi@ijep.com.br)