A CURA GAY

20 de março de 2018

Ultimamente, por conta do tema da “cura gay”, vários alunos me interpelam em busca de compreensão deste projeto de lei que, infelizmente, reflete a falta de sensibilidade dos nossos políticos diante da natureza humana. É incrível, e triste, como que a maioria deles só age em causa própria, defendendo seus interesses pessoais e fazendo tudo para poder aparecer.

Antes de tudo, precisamos compreender o significado da palavra “cura”. O conceito de cura, nas visões da psicologia junguiana e psicossomática, vão muito além da supressão dos sintomas, porque a cura implica na integralidade, plenitude e consistência do ser, comprometido conscientemente com o caminho da sua realização existencial, em busca de sentido e significado para a vida. Ou seja, estar curado é sinônimo de estar íntegro, levando sua vida de forma consistente, com capacidade de resiliência diante das possíveis adversidades e traumas, aceitando suas incongruencias e até distonias. Por isso, o termo cura é usado também no processo de endurecimento e resistência do concreto, cimento, polímeros e até do queijo, que também passa por um processo de cura para atingir sua melhor consistência e sabor.

Desta forma, quando me perguntam se meu trabalho como analista junguiano cura o gay, prontamente respondo que o propósito maior da minha atividade profissional, que deveria ser a de todo profissional de ajuda e da saúde, é o de promover a cura por meio do autoconhecimento, ativando o curador interno que existe em cada um de nós. Com o autoconhecimento surge a autoconsciência e a capacidade de lidar com as tensões naturais entre o eu e o inconsciente, a persona e a sombra, o individual e o social, entre outras, Por isso, tenho orgulho em afirmar que meu objetivo, como um espelho, o menos deformado possível, é o de criar condições para que o compromisso com a cura seja atingido tanto para heterossexuais quanto para homossexuais.  E posso afirmar, ao longo de mais de 30 anos atendendo pessoas, que tive o prazer de ajudar muitos gays se aproximarem da integralidade, assumindo, com orgulho e respeito, sua orientação sexual, não permitindo que ninguém transforme sua condição, que é diferente da maioria, em desigualdade. É obvio que se o indivíduo está em conflito entre seu desejo e sua orientação sexual, e isso gera conflito, temos que contribuir para que essa distonia fique menos exagerada, da mesma forma que também não é interessante a unilateralidade, porque esta é igualmente patológica.

O problema é que muitas pessoas fanáticas, preconceituosas e alienadas de si mesmas, tendem a transformar o diferente em desigual e, no caso da homossexualidade, de forma leviana e perversa, também associam à promiscuidade. Porém, é importante deixarmos claro que promiscuidade, corrupção e falta de ética são práticas inerentes de todas as pessoas egoístas e ignorantes e, psicologicamente, quanto mais elas conquistam poder, mais tentam projetar suas sombras nas minorias. Por isso, o processo do autoconhecimento promove a cura e a ética, como resultante, eliminando os impulsos promíscuos, corruptos, fanáticos e de poder, tanto de heteros quanto de gays.

WALDEMAR MAGALDI FILHO, Psicólogo, especialista em Psicologia Junguiana, Psicossomática e Homeopatia. Mestre e doutor em Ciências da Religião. Autor do livro: “Dinheiro, Saúde e Sagrado” e coordenador e professor dos cursos de especialização em Psicologia Junguiana, Arterapia, Psicossomática e DAC – Dependências, abusos e compulsões do IJEP – Instituto Junguiano de ensino e Pesquisa (www.ijep.com.br).


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