Tempos difíceis para o diálogo reflexivo dos contraditórios e o futuro político do Brasil

18 de outubro de 2018

Estamos vivendo tempos difíceis, ainda bem que Carl G. Jung nos ajuda a compreender e aceitar a psicologia das massas, quando um complexo coletivo constela, e os indivíduos submergem cegamente na coletividade. Isso, graças a esse processo de demonização ao PT, que apesar de ter promovida um enorme avanço na diminuição da desigualdade social, obviamente deu e ainda fornece os ganchos necessários para isso[1], e ao fascínio com o “mito”, que surgiu como o pai, meio ignorante, mas disciplinador e ordenador do Caos, estrategicamente potencializado pela campanha, que usa distopias e dissemina violências, para manter a projeção esperançosa dele fazer toda limpeza ordenadora. Não adianta ficarmos bravos ou tristes! Na realidade precisamos continuar amando. Afinal de contas, sabemos que os complexos nos têm, e isso é bilateral. Ou seja, eu e a aparente minoria, estamos tomados pela parte que acredita na garantia dos direitos humanos acima de tudo. Por outro lado, tem os bolsonaristas, a aparente maioria, que está tomada pela ira, com ódio do traidor, corrupto e corruptor, que arquetipicamente, está na condição do Bode Expiatório, que será execrado e levará com ele, o PT, todos os males do mundo, acreditando na higienização e disciplina ampla, geral e irrestrita.

Na realidade, esse movimento bolsonarista vem, já a um bom tempo, de uma parte significativa dos evangélicos, preponderantemente das igrejas neopentecostais, encabeçado pela IURD[2], que tem a intenção nítida de poder absolutista, muito parecido com o que acusam o PT, com nítido desejo em dominar a mídia, a política e a religiosidade da nação! Já estamos vendo isso a algum tempo: o Estado sendo aparelhado pelos pastores, os meios midiáticos contaminados pela mesma ideologia falso puritana, tradicionalista e autoritária, e o ativismo religioso disseminado na microcapilaridade social, direcionando os votos para seus propósitos de poder absolutista, e total liberdade em esquentar o dinheiro que vem de qualquer origem, porque a doação no culto religioso não precisa do CPF do ofertante.

Futuramente, e com a ajuda do fenômeno Bolsonaro, que também é um poste[3] sem capacidade de diálogo, além do seu discurso monotemático (PT, Venezuela, Cuba, Homofobia/Kit Gay, Violência/Arma, Corrupção)[4], teremos o retorno de um Estado Secular, fascista e ditatorial, com roupagem neoliberal, bem alinhada com o que tem de pior naquilo que Max Weber deixou escancarado no livro: “A ética protestante e o espírito do capitalismo”. Por isso, as bancadas da Bala (representada pelo lobby dos industriais) e do Boi (lobby dos ruralistas e mineradoras), apoiam esse fenômeno.

“O materialismo racionalista, uma atitude mental aparentemente insuspeita, é, na realidade, um movimento psicológico de oposição ao misticismo. Este é o antagonista secreto que é preciso combater. O materialismo e o misticismo nada mais são do que um par psicológico de contrários, precisamente como o ateísmo e o teísmo. São irmãos inimigos, dois métodos diferentes de enfrentar de algum modo as influências poderosas do inconsciente: um negando-as e o outro reconhecendo-as.” (Jung, Memórias 557)

A consequência disso, além do enorme desastre ambiental, educacional e humanitário (com perda dos direitos sociais), até chegarmos no retorno do Estado Secular, com risco do retorno da guilhotina, para eliminar os oponentes, e uma nova inquisição. Isso também é arquetípico, porque Ares, deus da guerra, foi concebido por Hera sem a semente masculina. Alegrava-se com a luta, junto com seus dois filhos: Deimos, o espanto que vem para dividir, e Phobos, o medo que vem para assustar. Ares, filho de Hera, nascido sem o pai, representa a competição do ser humano, cega, sem ética e visão adequada da situação, enquanto não estabelecer a relação com Afrodite e conceber a Harmonia, que representa a consonância dos dissonantes, a coniunctio (união) do amor (Afrodite) com a guerra (Ares).

Esse movimento territorialista, devido ao recrudescimento do patriarcado, já era esperado. Porque, diante das mudanças de paradigmas sempre surgem as defesas extremistas e, neste caso, abrir mão do poder e dos muros gera muito medo! A história evolutiva da humanidade, neste momento, aponta para a desconstrução do patriarcado, para que a alteridade, a nova dinâmica evolutiva, venha acontecer (muito alinhada com o que os movimentos New Age chamam de revolução aquariana e com o advento de Jesus Cristo, ensinando o amor universal ou ágape, onde todos são iguais no reino de Deus). Este é o caminho evolutivo natural e saudável da humanidade, onde a hierarquia absoluta e autoritária dará lugar à holarquia entrelaçada, para que todos humanos, de fato, sejam compreendidos como iguais, e as diferenças, sejam elas quais forem, serão bem vidas para ampliar nossa capacidade criativa.

Porém, como já disse, diante do novo, a tendência é que os mecanismos de defesa surjam com mais intensidade, associados aos padrões antigos e retrógrados, que proporcionam segurança e conforto. Por isso, estamos vendo o fenômeno Bolsonaro aqui, o Brext na Inglaterra, a tentativa do Frext, com a Le-Pen, na França (que apesar de ser líder da extrema direita acabou de criticar o discurso do Bolsonaro), fora quase 20% de parlamentares neonazistas que acabaram de ser eleitos na Suécia, o Trump, com seu muro e medidas protecionistas, a supremacia branca, etc. Ou seja, estamos vivenciando aqui, de forma ampliada, devido ao povo muito inculto e reativo, pela sistêmica carência de educação de qualidade e universal nestes últimos 50 anos, estimulando a crítica reflexiva e autonomia. Da minha parte, estou tentando contribuir com reflexões e ativismo contra o ódio e o autoritarismo, com respeito e total acolhimento e aceitação das pessoas que pensam de forma diferente, mesmo me agredindo ao me chamar de petralha, comunista ou esquerdopata. Isso é uma pena, mas seguirei adiante, acreditando na grande revolução do amor!

“A psicologia do indivíduo corresponde à psicologia das nações. As nações fazem exatamente o que cada um faz individualmente; e do modo como o indivíduo age, a nação também agirá. Somente com a transformação da atitude do indivíduo é que começará a transformar-se a psicologia da nação. Até hoje, os grandes problemas da humanidade nunca foram resolvidos por decretos coletivos, mas somente pela renovação da atitude do indivíduo.” (JUNG, Carl. Prefácio à 1ª edição – 1916 -Psicologia do inconsciente)

Porque a minha profissão é a psicoterapia, que busca promover a autonomia das pessoas, por meio da ampliação de consciência. Por isso, jamais poderia compactuar com a tirania, violência, discriminação, desigualdades, ditadura e fascismo. Caso viermos a ter líderes que estimulam a violência, discriminam mulheres, homossexuais e as minorias raciais, certamente isso irá gerar muito mais violência contra as categorias dos diferentes, aprofundando ainda mais a desigualdade. Peço a Deus que ilumine a mente dos alienados que não percebem o que está por vir, caso essa figura nefasta venha ganhar a eleição presidencial. Não podemos ser omissos com isso! Por isso, estou me expondo e lutando em nome da minha alma e não pelo instinto territorialista que tem a fantasia da proteção, mesmo que seja de um pai abusivo, opressor e autoritário.

São Paulo, 17/10/2018

Paz e Bem

Prof. Dr. Waldemar Magaldi Filho

Psicólogo, Analista Junguiano, Mestre e Doutor em Ciências da Religião, Especialista em Psicossomática, Psicologia Analítica, Arteterapia e Homeopatia.

www.waldemarmagaldi.com

[1] Porque não fez o “mea culpa” e ficou atrelado aos velhos corruptos do MDB e Centrão, que agora, em busca de se manterem no poder, estão apoiando o Bolsonaro, assim como o Dória em São Paulo, que trai tudo e todos pelo mesmo fascínio ao poder!

[2] Em meu livro: “Dinheiro, Saúde e Sagrado – Interfaces culturais, econômicas e religiosas à luz da Psicologia Analítica” – Ed. Eleva Cultural, em 2004 já denunciava este movimento de poder, onde o capitalismo neoliberal estava presente nos templos, que viraram teatros a serviço do mercado, e a Medicina da Sociedade de Consumo, transformando as doenças em negócios absolutamente rentáveis.

[3] Se o Haddad é acusado de receber instruções do Lula, um presidiário, que ainda não foi julgado definitivamente, o Bolsonaro, um franco atirador, também está sendo manipulado pelos grupos de interesse do BBB, que será citado ao longo do texto, e de uma parcela militar, que deseja retomar o poder. Afinal de contas, como nos ensinou o Tolkien, na obra: Senhor dos Anéis, é muito difícil abrir mão do precioso.

[4] O mais incrível é que a Psicologia Analítica nos ensina que quanto mais fugimos da sombra, mas corremos o risco de irmos de encontro a ela. Por isso, por medo da Venezuela, corremos o risco de transformarmos o Brasil, com um presidente ditatorial e tirano, o espelho da Venezuela. Na mesma dinâmica bíblica temos: “Quando um espírito imundo sai de um homem, passa por lugares áridos procurando descanso. Como não o encontra, diz: ‘Voltarei para a casa de onde saí’. Chegando, encontra a casa desocupada, varrida e em ordem. Então vai e traz consigo outros sete espíritos piores do que ele, e, entrando, passam a viver ali. E o estado final daquele homem torna-se pior do que o primeiro. Assim acontecerá a esta geração perversa”. Mateus 12:43-45


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