MODERNIDADE E A EDUCAÇÃO DOS EDUCADORES E PROFISSIONAIS DA SAÚDE

11 de abril de 2018

Estamos atravessando por um período de muitas transformações. Além das questões ambientais, que já nos assustavam há alguns anos, temos a crise do sistema econômico, com risco de desemprego em massa e mais exclusão social. Aliado a tudo isso, estudos psiquiátricos internacionais apontam que até 2020 35% da população mundial estará sofrendo de depressão e outros 35% estarão dependentes de algum tipo de substância psicoativa, lícita ou ilícita, ou de comportamentos abusivos, como jogos, compras, sexo, entre outros. De fato, esse cenário não é nada animador e nos faz refletir onde erramos ou deixamos de investir e o que podemos fazer para mudarmos esse futuro tão insólito e assustador.

Nesse sentido que, há algum tempo, eu e alguns colegas atuantes nas áreas de saúde e humanas em várias localidades brasileiras, estamos investindo nossas energias em estudos de psicologia junguiana, ciências da religião, psicossomática e nos temas relacionados às dependências, abusos e compulsões, incluindo atendimentos sociais com vários tipos de acompanhamentos. Estes estudos nos possibilitam compreender a última pesquisa divulgada pela igreja católica, anunciando que 60% dos homens ao relatarem seus pecados nos confessionários do Vaticano assumem terem cometido luxúria, seguidos de cobiça e gula, enquanto que 40% das mulheres assumem pecarem devido a vaidade, seguida de inveja e ira.

Reconheço que deve existir algum viés nesses dados, pois o segmento populacional pesquisado é bem específico cultural, econômica e religiosamente, e os pesquisadores, por sua vez, naturalmente são tendenciosos além de não deixaram explícito o tempo e a quantidade de pessoas e a proporcionalidade entre homens e mulheres da pesquisa, apesar de acreditar que seja, no mínimo, 5 mulheres para cada homem e que todos, por irem aos confessionários do Vaticano, pertençam a um grupo bem específico econômica e intelectualmente. Porém, ao refletirmos sobre os dados, e em função da nossa experiência com vários tipos de pessoas, acabei percebendo que essa amostragem tendenciosa, infelizmente, reflete nossa realidade contemporânea, independente das variáveis religiosas, culturais, econômicas ou raciais!

Ou seja, esses dados só servem para confirmar o quanto nossa cultura ainda é machista, estimulando e impondo aos homens o prazer sexual imediato e muitas vezes inescrupuloso, seguido de desejos de acúmulo, pois o poder econômico contribui ainda mais para as práticas de abusos de poder, promiscuidade e perversão. Desta forma a cobiça ou ganância, orientada pela luxúria, acaba desembocando em mais desejo de prazer carnal, advindo das demandas orais, produzindo a gula. Esta realidade, por outro lado, acaba transformando as mulheres em objetos de desejo que, por sua vez, investem cada vez mais em moda e cosmética para se sentirem desejadas, infelizmente, na maioria das vezes, como meras mercadorias vaidosas. Porém, mesmo com tantos investimentos estéticos e sacrifícios físicos e alimentares, acabam não se sentindo tão desejadas quanto “as outras” e se rendem à inveja e ira. Principalmente porque o que mais elas buscam é o vínculo, atitude muito rejeitada pelos homens inebriados em seus desejos e atitudes luxuriantes e de acúmulo competitivo.

Isto porque vivemos numa sociedade que transformou a essência da felicidade, impondo-a como uma obrigação imposta a qualquer custo, mesmo que contrariando princípios éticos e morais das tradições filosóficas, religiosas ou familiares. É uma pena, mas atualmente o conceito de felicidade, além de desvirtuado, está muito desgastado e controvertido. Para os pobres é algo idealizado e materialista, obviamente devido seus baixos recursos financeiros e sentimentos de exclusão social. Em contrapartida, os mais abastados acabam, também, iludidamente, indo para a busca de experiências místicas com estados alterados de consciência e sentimentos regredidos. Porém, ambos associam felicidade com alegria, prazer, riqueza, satisfação e saúde!

São estas as causas que fazem os indivíduos continuarem no consumo do inútil, muitas vezes se endividando, para acumularem o máximo possível de momentos “felizes”. Mas, o que vemos com o passar dos tempos é que essas pessoas perdem a capacidade de saborear a própria vida, que é plena de surpresas, boas ou ruins, alegres ou tristes e prazerosas ou dolorosas. Experiências que devemos saborear conscientemente, para sabermos! Porque o sabor está na base do saber, do conhecimento e da memória. Neste sentido que pais e educadores devem estar atentos e cuidarem para que filhos e alunos desenvolvam a capacidade de saborear a vida, em todas as suas nuances, tempos, temperos, temperaturas, texturas e modos, mesmo quando algumas experiências nos remetem ao ácido, amargo, cáustico, azedo ou doloroso.

Só assim poderemos entender que felicidade é um estado de consciência que, quando atingido, raramente será perdido. Mas, para a conquista da verdadeira felicidade devemos deixar de lado os conceitos consumistas e materialistas impostos pela atual sociedade competitiva, excludente e monetarista e nos entregar para o autoconhecimento. Só assim poderemos reconhecer quais são as nossas demandas instintivas, que nos remetem ao prazer oral, sentimentos de segurança e sexualidade. Quais são as nossas demandas emocionais, que nos remetem ao desejo de pertencimento e de amor, consigo mesmo e com o próximo e, por fim, quais são as nossas demandas transcendentais, que nos remetem as produções e questões criativas, artísticas, estéticas e místicas. Tudo isso porque temos que atender nosso cérebro que possui, no mínimo, esses três sítios com seus respectivos circuitos de gratificação e recompensa. Por isso, para alcançarmos a felicidade devemos estar abertos para todas essas demandas, saboreando as experiências existenciais num contínuo processo de autoconhecimento rumo a sabedoria!

É interessante notarmos que dos sete pecados capitais ou do capitalismo consumista, competitivo e gerador de exclusão e desigualdades, a preguiça, nesta pesquisa, não apareceu como pecado cometido! Em minha opinião, não porque esse pecado não seja praticado, mas porque a maioria das pessoas não possui consciência dele. Ou seja, a maioria das pessoas esta completamente adormecida, absolutamente alienada de si mesma, agindo como zumbis, ora em busca de prazer luxuriante, ora para satisfazerem suas vaidades, comprando o que não necessitam, com o dinheiro que ainda não possuem, para impressionarem quem não conhecem e imaginarem ser o que não são! Permanecendo alienadas devido as dívidas que lhes obrigam a trabalharem sem sentido de realização existencial, apenas com o propósito de preservarem seus créditos para continuarem consumindo o inútil e se sentirem pertencentes ou aprisionadas neste atual contexto social que está falindo em todos os sentidos.

Com isso, fica evidente que o maior pecado cometido inconscientemente é a preguiça, principalmente a mental, pois é muito doloroso sair da inércia, encarar a angústia existencial e agir em busca da luz, vivenciando uma espécie de morte simbólica do estado de normose adaptativa imposto pelas estruturas do mercado econômico contemporâneo. Ou seja, o autoconhecimento exige muita determinação e coragem. Assim, a maioria acaba ficando alienada, até que surjam os sintomas de adoecimento ou, infelizmente, até a morte real do indivíduo. Neste sentido é que podemos afirmar que o bônus da doença física, psíquica ou econômica, pode ser um processo de ajuda psicoterapêutica que desperte o ser interior, ou Self, para que o ego alienado e sofredor seja direcionado para o processo de individuação – a verdadeira meta da existência humana, possibilitando a realização da alma devido a conquista de sentimentos egocêntricos e altruístas simultaneamente.

Essas são as razões de compreendermos as crises como possibilidades criativas e, felizmente, nossa experiência deixa bem evidente que existe uma saída para toda essa situação crítica, que eu tenho chamado de doença da impermeabilização ou plastificação1 do ego e do planeta, onde a troca verdadeira cada vez mais está comprometida. A saída, a meu ver, é investirmos pesado na educação, principalmente dos educadores e dos profissionais de ajuda das áreas de humanas e saúde. Pois ninguém pode levar o outro para além de onde conseguiu chegar. Por isso é necessário criamos um movimento de valorização e autoconhecimento para todos esses profissionais. Só assim poderemos, a médio prazo, reverter essa situação tão angustiante. Mas, para que isso possa acontecer, precisamos exigir dos nossos governantes esse tipo de compromisso, pois sem a adesão deles é óbvio que o caminho será mais lento. Mas, infelizmente, o que mais vemos é a contínua desqualificação dos nossos educadores e profissionais de saúde em geral, que estão sendo cada vez menos remunerados e valorizados por nossos políticos e, conseqüentemente, pela população!

O resultado dessa triste realidade é o crescente número de educadores que tratam seus alunos como meros animais passíveis de adestramento, estimulando a fixação mnemônica das informações por meio de uma série de reforços de gratificação e recompensa, levando-os a agirem normoticamente adaptados a esse sistema doente, obviamente sem pensarem ou questionarem o sentido de suas vidas. Assim como temos uma legião de profissionais da saúde que tratam seus pacientes doentes apenas como máquinas bioquímicas que devem funcionar de acordo com os dados estatísticos da saúde, com intuito de prorrogar, ao máximo, a vida biológica voltada apenas para o consumo do inútil.

Concluo essas reflexões estimulando todas as pessoas, principalmente pais, educadores e profissionais de saúde, para questionarem essa preguiça inercial diante das questões existenciais, da falta de sentido e de significado para a vida, estimulando-as a buscarem não apenas o conhecimento de si mesmos, mas as contribuições dos legados de pioneiros como C. G. Jung e outros que precocemente já denunciavam essa nossa realidade. Só assim teremos chance de reverter essa situação de futuro tão insólito!

Nesse sentido, nós da FACIS – Faculdades de Ciências da Saúde de São Paulo (WWW.facis.edu.br), estamos oferecendo descontos especiais na matrícula e mensalidade dos nossos cursos de pós-graduação que formam especialistas em Psicologia Junguiana, Psicossomática, Dependências, Abusos e Compulsões e Arteterapia, que são excelentes ferramentas tanto para o conhecimento teórico quanto para o autoconhecimento humano, com aulas que acontecem apenas no último sábado de cada mês. Porque, atualmente, meu maior objetivo é o de fazer com que as pessoas, sejam elas quem forem e aonde estiverem, saiam da inércia e da atitude do escravo, que trabalha apenas pelo chicote ou pela necessidade de ganhar dinheiro para garantir sua sobrevivência, acumular bens ou desfrutar dos efêmeros prazeres carnais. Pois acredito e sei que todo ser humano é uma pedra bruta que precisa ser polida para deixar a luz de seu espírito interior brilhar e orientar o seu caminho exterior que, inevitavelmente, será o de servir à própria humanidade.

Por Isso nossas aulas equivalem a sessões de psicoterapia e, na realidade, acredito que esse é o maior ganho que nossos alunos podem ter, e é o nosso primeiro argumento para conquistarmos novos alunos! Porém, como todo processo de autoconhecimento, incomoda! Porque sair da zona do conforto ou da inércia alienante sempre vai doer e assustar! Desta forma, no início do curso, alguns alunos acabam desistindo e outros reclamando muito, mas não podemos passar o conhecimento sobre a natureza humana sem que os alunos se conheçam e se confrontem perante a sua sombra e sua essência. Neste sentido que nosso curso é totalmente diferente dos cursos que ensinam apenas técnicas ou passam informações.

Além disso, informo que atendemos socialmente nas instalações da FACIS, toda quinta-feira das 18h: 15m até as 19h: 45min, às pessoas que sofrem dos transtornos de dependências e co-dependências, oferecendo atendimento em grupo de acolhimento com encaminhamentos para psicoterapia individual e tratamento homeopático. Os interessados sempre serão bem vindos e para maiores informações ligar para a secretaria da faculdade: (0xx11) 5085-3141

* WALDEMAR MAGALDI FILHO (www.waldemarmagaldi.com). Psicólogo, especialista em Psicologia Junguiana, Psicossomática e Homeopatia. Mestre e doutor em Ciências da Religião. Autor do livro: “Dinheiro, Saúde e Sagrado”, coordenador dos cursos de especialização em Psicologia Junguiana, Psicossomática, DAC – Dependências, abusos e compulsões, Arteterapia e Expressões Criativas e Formação Transdisciplinar em Educação e Saúde Espiritual do IJEP em parceria com a FACIS. wmagaldi@gmail.com


Deprecated: Directive 'track_errors' is deprecated in Unknown on line 0