COMPANHEIROS! POR QUE É MAIS FÁCIL COMPETIR DO QUE COOPERAR?

11 de abril de 2018

Companheiro é aquele que compartilha o pão – commun + panis. Ou seja, deveria ser o parceiro que se sente honrado em poder partilhar os frutos da sua obra com seus colegas que, direta ou indiretamente, estão motivados pela mesma causa, com o mesmo entusiasmo, apesar de estarem operando coisas e situações diversas ou até diferentes. Na realidade, esse princípio está presente em todas as religiões, sejam elas salvacionistas ou reencarnacionistas, distribuídas entre os cultos monoteístas, panteístas, politeístas ou ateístas.

Porém, por estarmos cada vez mais influenciados pela deusa razão e seu filho dileto que é o atual mercado econômico, estamos nos tornando, cada vez mais, competitivos, cumulativos e excludentes. Neste sentido, acabamos, inconscientemente, embarcando nessa dinâmica onde a divisão perversa acabou sendo o instrumento da liderança ou gestão autoritária, que fomenta a dissociação como meio de dominação e poder, contribuindo para a manutenção da riqueza da minoria em detrimento da pobreza e fraqueza da maioria.

Com isso, estamos perdendo a noção de comunidade, onde todos deveriam estar motivados em servir a unidade divina, que é a somatória de todas as mentes. Isso se agrava ao nos apartarmos das diferenças, que são imediatamente transformadas em desigualdades. Portanto, nesse processo, estimulamos a presença da figura do adversário, aquele que nega o diverso. A conseqüência disso é o surgimento das separações, divisões e competições, onde as pessoas acabam ficando dissimuladas, falsas, fofoqueiras, maledicentes, performáticas, entre outras atitudes meramente teatrais para encobrirem suas intenções competitivas, excludentes e cumulativas em busca da ilusão de terem o poder.

Por isso estamos vivendo uma época de separação, divisão e diferenciação entre o mundo sagrado e o profano, o público e o privado e o individual e o coletivo! Será que isso é certo? Afinal de contas nosso propósito existencial não é o de vencermos nossas paixões, submeter nossas vontades infantis e egoísticas para podermos edificar um mundo melhor, mais justo, harmonioso e ético para nós e nossos descendentes? Ou será que competição ou cooperação são características de personalidade inatas ou aprendidas? Na realidade nascemos com as duas formas de agir, cabe a cada um de nós fazer a escolha, apesar de toda influencia sócio e cultural, pois a ética é uma conquista interior, que a qualquer momento pode superar os costumes, as regras e a moral vigentes!

Então, quais têm sido nossas escolhas? Cabe escolhermos, e acabar com o mito de que é a competição que nos faz evoluir. Porque foi a coexistência harmoniosa foi o fator fundamental para o desenvolvimento e a sobrevivência de todos os espécimes, incluindo o humano. Mas, infelizmente estamos aceitando o conceito de homo economicus, que acredita que toda pessoa é concebida condicionada e influenciada exclusivamente por recompensas e, neste caso, o prestígio, a vantagem imediata, o salário, a conquista material é que nos motiva e o trabalho é mera necessidade! Ou seja, não trabalhamos porque gostamos, mas pelo medo da fome e pela necessidade de dinheiro para viver.

Então, para revertermos essa situação precisamos estar mais centrados com nosso mundo interior, que é sagrado por excelência! Só assim poderemos sacralizar nosso mundo profano em busca dos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade e, enquanto isso não acontecer, solidariedade e, na pior das hipóteses, caridade – obviamente sem corrermos o risco de provocarmos humilhação ou acomodação aos necessitados e excluídos.

Ou seja, para mim é uma ilusão acreditarmos que existe diferença e separação entre o profano e o sagrado, o público e o privado, porque, como citou Hermes Trismegisto, na Tábua de Esmeraldas, o que está em cima corresponde ao que está em baixo, assim como o macrocosmo corresponde ao microcosmo, e vice e versa. A propósito, na minha prática como analista junguiano, minha maior intenção, que acredito ser vocacional e missionária, é a de contribuir para que o humano (em toda sua exuberância instintiva, territorialista, impulsiva e vaidosa) se espiritualize em busca de sentido e significado existencial, que inevitavelmente desembocará na necessidade de poder servir para poder SER. Esse é o conceito de vocação ou daimon, proposto por Heráclito.

Nesta empreitada posso afirmar que os indivíduos performáticos e dissimulados, que sabem deixar totalmente separado o mundo interior com o mundo exterior, o profano com o sagrado, o público com o privado e outras dualidades inerentes à própria humanidade, são os mais abomináveis, porque como o diabo (di-abolos) – que é a encarnação da divisão, são mestres na arte de ludibriar e enganar aqueles que estão buscando integridade, equivalente a união dos pólos. Então, encerro este texto conclamando todas as pessoas a se engajarem nesse meu ideal utópico de sacralizar ou ressacralizar todo o mundo profano (incluindo trabalho, família, sociedade, política e as instituições religiosas, que estão usando Deus apenas como meio de adquirir dinheiro, prestígio, influencia e poder). Só assim teremos mais sinceridade, amor e igualdade, com liberdade e sentido existencial expressos nas relações cooperativas e solidárias, inerentes a todos os seres humanos felizes por estarem entusiasmados (em+ theos + asimos = animado por Deus)!

* WALDEMAR MAGALDI FILHO (www.waldemarmagaldi.com). Psicólogo, especialista em Psicologia Junguiana, Psicossomática e Homeopatia. Mestre e doutor em Ciências da Religião. Autor do livro: “Dinheiro, Saúde e Sagrado”, coordenador dos cursos de especialização em Psicologia Junguiana, Psicossomática, DAC – Dependências, abusos e compulsões, Arteterapia e Expressões Criativas e Formação Transdisciplinar em Educação e Saúde Espiritual do IJEP em parceria com a FACIS. wmagaldi@gmail.com


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